Aparigraha: o desapego na visão do yoga

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O 5ª Yama, a conduta ética a ser assimilada pelos yoguis, chama-se Aparigraha, o desapego. No mundo terreno a matéria é vivenciada de forma limitada, o que causa um vício equivocado na visão do que é real, irreal, permanente e impermanente. A filosofia do Yoga e seu estilo de vida propõe uma mudança de olhar perante a vida, despertando o praticante para uma caminhada espiritual. 

O professor tradicional de Vedanta, Jonas Masetti, esclarece tal ponto de vista distorcido sobre a matéria:

“O mundo material foi cunhado para um crescimento espiritual, e portanto, você não precisa ter medo de nada que exista no mundo material. Como se o mundo material fosse te jogar numa direção diferente do espiritual: ‘dizem: estou muito apegado ao mundo material’. Você não precisa pensar assim.Tudo o que foi criado aqui tem o propósito do seu crescimento”.

A cultura védica afirma que todo o sofrimento humano surge através da assimilação errônea de quem realmente somos. Encobertos pela identificação incessante de pensamentos passados, memórias e projeções fantasiosas do futuro: o apego pela mente dual que faz a pessoa lutar de forma viciosa para que o mundo, pessoas e circunstâncias sejam exatamente como ela deseja.

Christopher D. Wallis, autor da obra “O Tantra Iluminado”, elucida: 

“Dentre todas as camadas, a maioria de nós se identifica mais com a mente. Livrar-se dos grilhões dessa identificação é, claro, impossível sem aumentar a experiência fundamentada e direta das camadas mais profundas do self, da consciência. Tal separação da mente (que não significa subestimar a sua utilidade), é crucial em todas as formas de yoga, quer Tântricas ou não -Tântricas. Sabe, quando nos identificamos demais com a mente, não conseguimos deixar de acreditar nas suas histórias. A mente cria representações simplificadas demais, generalizadas demais, distorcidas da realidade (chamadas de vikalpa). Quando achamos que esses construtos mentais são realidade- ao invés de representações distorcidas de segunda ordem- nós sofremos”.

O texto clássico Yoga Sutras, na tradução da professora tradicional de Vedanta, Gloria Arieira, diz no sutra 2.39:

Aparigraha é viver de forma simples, com o essencial, sem acumular objetos nem se preocupar com o futuro. Não significa viver sem nada, na rua, como um mendigo, mas sim livre da sensação de apego às pessoas e coisas; é saber que qualquer coisa que esteja em sua posse pode perder ou se modificar e, mesmo assim, permanecer confortável. Quando a pessoa alegremente vive o que vem para ela, com mínimo de posses, sua mente se torna mais objetiva e ela consegue ver coerência nas situações que se apresentam para ela. Ela consegue perceber a relação de causa e efeito entre as situações e entender o que, em outra vida, a levou ao nascimento presente”.

O único lugar onde não encontramos vícios com relação ao apego é o momento presente, a contemplação. Por isso, a prática de Yoga precisa ter constância. Ferramentas de Hatha Yoga que foquem na energização do 1º chakra (centro de energia do corpo), Muladhara, auxilia no equilíbrio de questões sutis que envolvem aparigraha, apego, insegurança material, preocupação excessiva com o corpo e o medo da morte. 

Para auxiliar na prática do desapego, podemos emanar as seguintes afirmações:

“Com plenitude do meu SER entro em sintonia, para não me apegar demais às coisas da vida”.

“Preencho minhas necessidades, não vontades. Procuro desapegar do corpo, das relações, dos pensamentos”.

“Me sinto seguro e completo no centro do meu SER”.

Texto: Renata Meire