Saucha é o primeiro Niyama (auto disciplina) e significa purificação. Considerando que vivemos em uma época de excessos, retornar ao essencial é um ato revolucionário, simplesmente por ser contra a cultura do “ter para ser”.
Já ouvi de uma professora tradicional de yoga que a prática de Hatha Yoga é como “lavar louça: precisa ser diária para conseguir enxergar melhor”. Quando ouvi esta frase ri de alegria pois faz muito sentido. De fato, acumular não é um bom negócio, desde objetos, comida, emoções e pensamentos negativos ou fantasiosos. No meio de tanta confusão, nos perdemos do que é verdadeiramente nosso e a presença inevitavelmente fica em segundo plano.
Nas escrituras clássicas, como no Yoga Sutras de Patanjalin (2.40), Saucha aparece como o processo de limpeza que ocorre externamente e internamente. Estes dois processos confluem-se:
“Assim como um templo ou uma igreja são mantidos limpos diariamente, o corpo interno, o templo da alma, deve ser banhado com um copioso suprimento de sangue por meio de asanas e pranayama, que limpam o corpo física, fisiológica e intelectualmente. O corpo, possuindo sua própria inteligência, desenvolve seu potencial para mudar seus padrões de comportamento. Ele ajuda o iogue a desconectar-se dos desejos irrelevantes e o guia em direção à proprietária do corpo, a alma. Portanto, Saucha faz com que o corpo se torne um instrumento adequado para a busca do conhecimento espiritual”.
Sendo assim, alimentação saudável, práticas de autocuidado, higiene pessoal, limpeza do ambiente e de companhias também são considerados Saucha. A seletividade parece ser um bom caminho para quem procura a purificação.
Outro texto clássico, Hatha Yoga Pradipika, cita alguns shatkarmas (técnicas de limpeza) que auxiliam a limpar o corpo/mente. São eles:
- Trataka- limpeza dos globos oculares;
- Nauli- limpeza e massagem da região abdominal/intestinal;
- Neti- Limpeza nasal;
- Kappalabhati- limpeza dos lobos frontais;
Praticando Saucha de forma mais consciente, abrimos espaço para um corpo mais saudável e leve, uma mente mais clara, calma e disponível para o auto conhecimento. Afinal, quando sentamos para meditar, é com a gente mesmo que entramos em contato. E que possamos aceitar e estar satisfeitos com quem realmente somos.
Texto: Renata Meire
Fontes : Luz Sobre os Yoga Sutras de Patanjali, B.K.S IYENGAR e Hatha-Yoga-Pradipika, tradução: Roberto de Andrade Martins.