Santosha, o contentamento, é a segunda autodisciplina (Niyama) no Yoga. Encontrada na escritura II.42 do Yoga Sutras, ela nos faz refletir sobre a nobre atitude interna de não se deixar levar pelo negativismo diante dos obstáculos da vida. Santosha também está interligado a “aceitação”, Ksanti, pois o real contentamento só ocorre quando acolhemos e aceitamos as pessoas e circunstâncias exatamente como são.
Santosha é uma palavra em sânscrito composta por dois elementos: saṁ, que significa inteiro, totalmente ou por completo, e toṣa, que quer dizer aceitação, contentamento ou satisfação.
A toxicidade pode estar no negativismo, mas também no positivismo. Rir de tudo, agradar a todos, não saber dizer não, querer se apresentar sempre perfeitamente bem, desmerecer a dor do outro achando que não devia sofrer, não são sinais de santosha. Pode ser um desespero ou até mesmo infantilidade.
A vida, apesar de colorida, nos provoca. A dor inesperada virá, a tristeza também, decepções e desamores. Muitos líderes espirituais são bem humorados, brincam, fazem piada, não levam a vida tão a sério… A vida por si só já traz muitos desafios e olhá-los com peso os tornam bem mais pesados do que de fato são. Receber o que a própria vida nos oferece com mais leveza, relembrar que vai passar e aceitar as circunstâncias é Santosha.
Um bom exemplo é: “O copo está pela metade”. Você irá focar no que tem dentro do copo ou no que acha que falta? A atitude corajosa e proativa de agradecer mais do que se queixar é uma iniciação a Santosha.
Gloria Arieira elucida a tradução deste nobre Nyiama:
“ Quando há santosha, o contentamento ou a satisfação consigo mesmo, a mente encontra o equilíbrio, sem euforia nem depressão. Com a chegada de coisas desejadas ou não, não há a sensação de excitação nem de frustração. A pessoa é capaz de se distanciar um pouco das situações, olhá-las e lidar com elas -isso é objetividade. Também consegue estabelecer um distanciamento de pessoas ou situações que podem afetá-la. A satisfação consigo mesmo torna-se natural e advém daí uma felicidade incomparável, que não depende de objetos nem pessoas”.
Segundo a cultura védica, a insatisfação é o grande véu que encobre a clareza interior, gerando avidya, a ignorância. Com esse véu, torna-se praticamente impossível acessar estados elevados de consciência. Por isso, santosha, o contentamento, é considerado uma escolha nobre, pois a partir dele florescem todas as outras virtudes. Trata-se de uma felicidade que não depende das circunstâncias externas. E, se ainda não for possível sentir alegria interior, que ao menos busquemos cultivar a paz.
Texto: Renata Meire